Sabático quer dizer trabalhar no sábado?

A Miroca começou o sabático com o pé direito. Nem duas semanas de Tunísia e, sem procurar, arranjou um emprego. Estávamos passeando pela Avenue Mohammed V, após termos visitado o Instituto Italiano di Cultura para procurar um curso para ela, e demos de cara com um prédio bonito do British Council.

Entramos, a Miroca se apresentou e fomos recebidos quase como parentes há muito desaparecidos! Fizemos um tour pelo prédio, com obras de arte como em SP, e fomos apresentados a umas 30 pessoas diferentes. Vários sugeriram que a Miroca deveria dar aulas lá, que eles estavam precisando de professores, etc. Deixamos o telefone e, no mesmo dia, o responsável administrativo do instituto ligou.

Dito e feito. Dois dias depois a Miroca estava contratada. Ela tem 3 turmas e dá aulas às quartas, sextas e sábados. O horário não é lá essas coisas, mas não dá para escolher muito. Eu estou achando bem legal ela pertencer a essa comunidade, conhecer melhor os tunisianos. Quase todos os alunos e muitos funcionários são daqui. Ela está gostando, diz que é difícil aprender os nomes.

E já está ficando "local". Ontem fomos à Patisserie Les Pyramides (divina) e ela deu de cara com 2 alunos. Isso está virando Higienópolis!

Bichos de estimação

Outra novidade aqui na Tunísia é que temos tartarugas de estimação. Vieram com a casa. Aparentemente são duas grandes e uma pequenininha. Não é todo dia que as vimos. Elas se mexem bastante pelo jardim. Por incrível que pareça, elas fogem muito bem.

Vamos às compras

Apesar de freqüentemente recorrermos ao Carrefour para nossas compras, estamos tentando "estimular" o comércio local. Ou seja, somos tunisianos típicos - divididos entre o mundo moderno e a tradição. Nessa briga, o mundo moderno anda levando a melhor. Ao menos em Túnis.

A Miroca está bem aventureira. Fomos ao mercado público para buscar umas verduras e frutas melhores. As do supermercado não são lá grande coisa. A carne, também não é de se tirar o chapéu. Relativamente cara e dura. Um bom exercício para os dentes. Especialmente para as crianças, que se acostumaram a comer filet mignon que estava sempre em promoção no Pão de Açúcar

Eid ul-Fitr

O fim do Ramadan 2009 foi no fim de semana passado. É uma festa chamada Eid ul-Fitr. Eid (ou Aid) quer dizer festa e ul-Fitr eu não sei. O curso de árabe só começa em outubro.

Mas é uma festa bem legal. O foco principal são as crianças. Todas ganham presentes, em geral roupas. É como se fosse o natal, mas não tem essa estória de papai noel. As crianças sabem muito bem que são os pais que estão comprando.

Tivemos a sorte se sermos convidados por um casal de amigos para passar o Eid com eles. São o Fábio (italiano, de Napoli) e a Amel (tunisiana, de Bizerte). Eles tem uma filhinha (Rima) que é colega do Daniel. Fomos à casa dos pais dela no domingo para um belo almoço. Fica num pequeno povoado, de onde a maioria dos jovens emigrou para a Itália. Foi super interessante, comemos uma espécie de pasta (umas bolinhas de sêmola, com caldo) e tajine. Tajine tunisiano parece uma tortilla espanhola com pedaços de frango. Dizem que o marroquino é bem diferente. Estava muito bom. Foram bem legais em preparar um prato especial para nós, sem pimenta.

As crianças ficaram impressionadas com os carneiros que estavam sendo criados na casa para o próximo Eid. Na próxima festa, a tradição é que as famílias matem um carneiro para o almoço. Na casa dos nossos anfitriões, os carneiros já haviam chegado. As crianças demoraram um pouco para entender que as perspectivas dos carneiros não eram boas. Perguntaram para o dono da casa se os carneiros tinham nome. Ele riu. Eu inventei que eram um casal e os batizei na hora de "Pranzo" e "Cena". Não sei se já caiu a ficha de que isso significa almoço e jantar em italiano...

Após o almoço, fomos à Bizerte. Uma cidade litorânea, com um forte espanhol das guerras entre a Espanha e os otomanos. Parece que foi no século XVI e o corsário Barbarossa é um dos personagens nessa história.

Outra tradição, essa meio inquietante, é presentear a gurizada com armas de brinquedo. Todos saem para a rua para comemorar. Fica meio esquisito ver aquela criançada com revolver de espoleta (fazia tempo que eu não via um), pistola automática, escopeta, ... Só não vi AK-47. Quem sabe na próxima ida ao Rio.

A cidade estava fervendo, com multidões nas ruas. Todos bem vestidos, aproveitando o fim do Ramadan. As crianças, em especial os meninos, armados até os dentes. Apesar disso, fizemos um belo passeio.

Turistas de fim de semana

Nem só de estudos e compras se vive. Estamos aproveitando os fins de semana para conhecer um pouco melhor a cidade. Especialmente agora quando ainda temos tempo bom. Ouvimos que o inverno é relativamente frio e chuvoso.

A medina de Túnis (centro histórico de comércio) é fantástica. Essa sim dá a impressão de estarmos em um país árabe. Ruelas, lojinhas, becos com e sem saída. Navegar não é muito fácil, mas se perder é tão ou mais legal que achar o caminho. Os guris ficam tentando se orientar pelo mapa, as gurias já desencanaram.

O fato de ser bem seguro ajuda. Mas a gente entra numas quebradas que nos deixam preocupados. Sabe como é, não se esquece 15 anos de SP assim, de repente... Acho que, com o tempo, vamos nos acostumar a ver uns lugares vazios e mal-cuidados e não associar imediatamente com perigo.

Montando nossa casa tunisiana

Resolvemos dar um tempo em apartamento! Vamos aproveitar a segurança de Tunis para viver um pouco "à moda antiga". Nenhuma das crianças vai poder dizer que cresceu numa selva de pedras, que não podia jogar futebol da rua, etc. Nada de traumas de infância para se queixar mais tarde.

A casa é relativamente normal, um pouco grande demais. Preciso tirar umas fotos melhores, mas dá para ver pela entrada que é bem convencional. Nada de mil e uma noites. São dois andares, com um jardim meio caído. Já contratamos um jardineiro, o Mohammad, para dar um jeito nisso.

A casa estava vazia. Não era essa a idéia original. O plano era alugar uma casa mobiliada e, se possível, um andar de uma casa habitada. Mas as que vimos tinham móveis horrorosos e morar embaixo de uma família local, com seus 25 primos, tios, agregados, etc parecia melhor no papel que na prática.

Os móveis estão sendo adquiridos aos poucos. Uma descoberta bacana foi uma loja de móveis usados. A maioria dos móveis da loja ou é feio ou é velho (os dois, em muitos casos), mas dá para achar umas oportunidades. O transporte dos móveis é meio improvisado. Mas chegaram inteiros. O problema é que sempre se descobre um ou dois defeitos novos depois que os entregadores vão embora.

Teatro infantil às 22 hs!

Chegamos à Tunísia em pleno mês do Ramadan. Nesse mês, os muçulmanos fazem jejum durante o dia e, no começo da noite, fazem um bom jantar em família - a quebra do jejum.

Uma das conseqüências visíveis para aqueles que, como nós, não seguem essa tradição é que o horário de algumas atividades é meio estranho.

Na sexta passada (dia 12) fomos ver um teatro infantil com horário de início às 22 horas. Era a estória do Mogli e as crianças adoraram curtir o teatro em "horário de adulto".

A peça foi no anfiteatro de Cartago, um espaço ao ar livre no meio das ruínas da antiga Cartago. Uma bagatela de uns 2000 anos de história. Estava bem cheio, fervendo com famílias e crianças. A noite estava bonita e uma temperatura agradável. Saímos depois da meia-noite. Antes da peça, houve apresentações de uma escola de dança local com crianças e adolescentes. Alguns números foram bem impressionantes. Até aqui a Índia está na moda, a primeira apresentação parecia saída de Bollywood!

Primeiro dia de escola

Chegou o aguardado primeiro dia da escola italiana. Conhecida na comunidade local como "Scuola Italiana" ela tem como nome oficial "Istituto Scolastico G. B. Hodierna" (http://www.istitutoscolasticoitaliano.com/)

Segundo consta, esse Hodierna foi um astrônomo siciliano do século XVII. Quem nunca ouviu falar, não se preocupe. Mesmo os italianos não o conhecem muito bem.

O primeiro dia foi especial, os pais dos alunos da Prima Elementare (a classe do Daniel) puderam entrar para ver as crianças. Por sorte a sala da Sofia era ao lado e, num abrir e fechar de portas, deu para tirar uma foto dela dentro da sala.

O Sofia estava bem animada com a escola e entrou bem feliz. O Daniel estava com um pouco mais de receio e precisou de um certo "incentivo". Uma coisa legal foi que o Diretor da escola percebeu a situação dele e se mostrou bem atencioso. Uma bela primeira impressão da escola e da administração.

Como dá para ver pelas fotos, é uma escola pequena. Na classe do Daniel tem uns 14 alunos e na da Sofia uns 18.

La Marsa

Nos primeiros dias tivemos que procurar o que fazer com as crianças. Ainda não conhecíamos ninguém. O jeito foi improvisar uns programas.

La Marsa é quase um vilarejo independente. Tem vida própria, principalmente com a comunidade estrangeira que mora lá. Vários executivos, diplomatas, etc vivem lá. Em função disso, o comércio chega até a ser mais desenvolvido que em Tunis.

Um dos pontos de encontro é o Zephyr, um "shoppingzinho" com ar praiano que tem umas (poucas) lojas legais. Até agora a melhor livraria que vimos foi lá. Espero achar outras. O Monprix Kids e o Monoprix Maison fizeram sucesso. O primeiro com as crianças, obviamente. Eu e a Miroca gostamos do segundo, inclusive pela boulangerie que tinha lá (os croissants de chocolate eram divinos)

Um parque local tinha um zoológico, sempre uma alternativa de passeio com crianças.

La Marsa

La Marsa,

Finalmente chegamos à Tunísia. Essas primeiras semanas tiveram jeito de férias porque as aulas ainda não começaram e ficamos em um bairro afastado de Tunis, na costa.

Dá para para ver nas fotos, La Marsa é o típico vilarejo mediterrâneo. Casinhas brancas, turistas, uns aposentados e um mar fantástico. Bem bom para dar a partida no nosso Sabático.

As crianças aproveitaram os primeiros dias. A ansiedade era grande em relação ao início das aulas, não apenas das crianças.

Nessas primeiras duas semanas deu para conhecer melhor a cidade, o comércio local e as opções de moradia. Em geral saíamos todos juntos, mas o calor era grande e voltávamos todos cansados. Alguns dias saí sozinho para procurar um lugar para morar que fosse perto da escola das crianças.